Termos estatísticos se tornaram os tapadores de buraco da pobreza de vocabulário. E caíram na boca do povo. Vox populi vox dei , alguém poderia argumentar – coitado de Deus que sempre leva a culpa.
Para entender as confusões é necessário saber o que significam as palavras do jargão estatístico. Vamos a elas :
1. Média : é , sem dúvida , o termo mais mal utilizado e, por isso mesmo, o alvo de inúmeras piadas ( quem não conhece a do frango ?) . Considerando uma distribuiçao de frequência de valores numéricos, ou seja , precisamos ter , pelo menos, duas ocorrências destes valores, podemos calcular uma média aritmética ( soma destes valores dividida pelo número de ocorrências) ou uma média geométrica (raiz enésima, onde “n” é o número de ocorrências, da multiplicação dos valores). Caso tenhamos um fator de ponderação, pesos relativos à importância ou repetição das ocorrências, uma dependente da outra, podemos calcular a média ponderada. Chamando a distribuição de valores “x” e a tabela de pesos “y” , a média ponderada é calculada somando-se o resultado das multiplicações de cada valor “x” pelo valor “y” correspondente e dividindo o valor obtido pela somatória de valores “y”.
Ou seja : “ na média, usamos erroneamente a média”.
2. Progressões : quando falamos de uma progressão, devemos pensar em dois pré-requisitos , a saber, primeiro uma progressão se refere a um evento anterior do mesmo tipo , segundo os eventos comparados precisam ser mensuráveis (estamos falando de novo de valores numéricos). Quando alguém comenta que sua gripe melhorou 60 %, a primeira coisa que me vem à cabeça é se a pessoa mediu isto em relação aos graus de febre ou ao número de espirros… Ou quando alguém fala que “fulano é uns 30% melhor que beltrano” não consigo sequer supor o que isto quer dizer.
3. Correlação : o prefixo “ co “ indica algo que é feito ou ocorre em conjunto. Daí temos que uma correlação indica uma co-dependência entre duas distribuições de frequência, ou seja uma dependência mútua entre duas ou mais séries de valores numéricos. Usando a linguagem matemática poderíamos dizer que y = f (x) , ao mesmo tempo em que x = f (y) . A confusão típica é usar a palavra correlação para indicar uma relação de causa e efeito, onde apenas uma das variáveis é dependente.
Aqui também temos frequentemente a utilização do termo estatístico para ilustrar situações sem valores numéricos , “ correlacionando “ fatos não mensuráveis quantitativamente. Prática fomentada todos os dias pela nossa imprensa.
Poderíamos ainda citar diversas outras confusões semântico-estatísticas, mas a questão mais significativa é que devemos tomar cuidado com o uso destas palavras mais quando as ouvimos do que quando as falamos. Falácia , é algo que parece verdade, soa como verdade e é dito como se fosse verdade – mas é mentira . Manipular palavras de forma a convencer alguém sob argumentos falsos. Algumas pessoas são mestres na manipulação de palavras. Outras se especializam na manipulação de números !
Um ditado inglês diz que “ liars can figure, and figures can lie “, quando nos deparamos com afirmações onde se manipula bem as palavras e o números corremos o grande risco de tomarmos decisões erradas , dependendo da situação e da ordem de grandeza destes números, decisões catastróficas. Se tivermos o bom hábito de conhecer o básico do jargão estatístico evitamos as falácias e podemos nos ater a questionar a validade dos números.