Manutenção forçada

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Não foram poucas vezes na minha carreira que ouvi o chavão de que precisaríamos aprender a trocar o pneu com o carro andando, ou, numa versão alternativa, arrumar o avião em pleno voo.

A frase fazia referência ao fato de que a empresa precisava reorganizar seu processos, planos e projetos, mas não poderia parar em função deles, o que não deixava de ser uma utopia. Por favor, não tente trocar o pneu com o carro andando para me provar o contrário, eu prezo pela sua integridade física.

Não só era utópico, como a inviabilidade disso acabou gerando novos modelos de desenvolvimento de projetos. Se eu não posso trocar com o carro andando, então preciso adotar o processo da fórmula 1 e fazer a troca no menor tempo possível. Surgiram os processos ágeis.

Algumas empresas mudaram suas culturas para conseguir se adaptar a esse modelo, mas foram poucas.

De repente, o mundo virou de ponta cabeça de uma forma que nem o mais pessimista dos planejadores poderia supor. Os carros foram todos para a garagem e os aviões estão retidos no solo.

Por um mês? Dois? Mais que isso. Ninguém pode prever de forma peremptória. Muitos autodenominados profetas e futuristas já estão dizendo como o mundo será depois do Covid-19, eu não tenho essa pretensão.

Uma percepção é quase unânime. O mundo não será mais o mesmo.

Alguns poucos acreditam que tudo voltará ao normal (business-as-usual), eu acredito que o normal será diferente do que vivemos até o hoje.

Também sei, que na hora que as empresas forem ligar de volta o motor dos seus carros e aviões, muitas não conseguirão sair do lugar, porque os deixaram ociosos durante os tempos de confinamento.

E aquelas que aproveitarem esse tempo de parada forçada, para trocar seus pneus por outros mais eficientes, que repensarem suas engrenagens e combustíveis para um novo mundo, que treinarem seus pilotos para enfrentar desafios que ainda são desconhecidos, são aquelas que vão disparar na frente de todas as demais.

A regra do jogo não será mais a de fazer melhor o que se sabe fazer, mas fazer diferente do que foi feito até agora.

As que ficarem esperando por um milagre, ou acharem que nada vai mudar, no momento da largada comerão poeira.

Claro, é uma escolha. Ficar reclamando da realidade não é a melhor delas.

Sujar as mãos de graxa e suar é o caminho.