Algum dia, lojas de varejo, restaurantes e outros negócios que atendem pessoalmente o público reabrirão.
Antes que isso aconteça, deve haver um processo claro para manter as pessoas seguras.
Fala-se em limitação de pessoas, obrigatoriedade do uso de máscaras, demarcação de distância e alternativas paliativas que, justamente por serem apenas paliativas, poderão ser revogadas num piscar de olhos caso a disseminação do vírus volte a aumentar.
Segurança de fato, só teremos quando for desenvolvido um método eficaz de tratamento da doença e, claro, quando existir uma vacina e a vacinação for universal.
Infelizmente, o tempo até a reabertura total desses estabelecimentos ainda parece estar longe.
Se você abrir, eles virão?
No filme Campo dos Sonhos, de 1989, Ray Kinsella, o personagem interpretado por Kevin Costner, fazendeiro em Iowa, ouve uma voz vinda do seu milharal dizendo que se ele construir, ele virá.
O ele, no caso, era um falecido jogador do Black Sox, envolvido em um escândalo em um jogo de 1919. A história envolve a resolução do escândalo e do relacionamento de Ray com seu pai, um fã ardoroso de baseball. Caso você nunca tenha assistido o filme, recomendo muito.
A questão aqui, como no filme, é: será que os clientes realmente voltarão a frequentar as lojas e restaurantes da mesma forma que costumavam fazer antes da pandemia?
Ray Kinsella quase vai à falência ao transformar seu milharal em um campo de baseball. Será que muitos negócios não irão à falência por não transformar seus “milharais” em outros modelos de negócio?
É tudo culpa da pandemia?
Muitas das mudanças nos hábitos de compra do consumidor que já vinham acontecendo foram potencializadas com a obrigação de ficar em casa e isso gerou um aprendizado que não será removido de sua mente.
Mudança provocada pela conveniência do e-commerce, e seu consequente declínio de compras por impulso, pelos novos paradigmas das gerações mais recentes e, claro, pelo próprio contexto de uma economia mundial que deixou de se expandir sem limites.
Nos últimos anos já vínhamos acompanhando uma queda de consumo em lojas físicas de algumas categorias de produtos. Algumas empresas estavam se adequando, com maior ou menor velocidade, a isso.
Era uma mudança inevitável. Só não se esperava que desabasse sobre as nossas cabeças como o suposto meteoro que dizimou os dinossauros. Os dinossauros extinguiram-se. Negócios (e gestões) com modelos mesozoicos seguirão o mesmo destino.
Não menos importante, mas significativa, é a pergunta que ouvi outro dia: será que as pessoas estarão dispostas a experimentar uma peça de roupa que já foi vestida por um desconhecido antes delas?
Quem vai perder menos?
Nada pode ser generalizado. Alguns negócios serão menos afetados que outros, como acontece, inclusive, durante a pandemia.
As prioridades dos consumidores mudaram e a diminuição da estabilidade e suas capacidades econômicas afetará seus gastos.
Muitos esperam ansiosamente a chance de voltar a um salão de beleza e barbearias. Depois pode ser uma visita a um médico ou dentista (acho que ainda estamos longe de tratar um canal de forma virtual). Depois, as compras – artigos domésticos, incluindo material de limpeza, papéis higiênicos, sabonetes e outros itens, mas, principalmente aqueles que as pessoas gostam de olhar e escolher como carnes, frutas, legumes e verduras.
A pandemia do Covid-19 e as ordens de confinamento resultantes fortaleceram e expandiram as compras pela Internet. A entrega de mercadorias por alguns fornecedores é conveniente e vai gerar mais lealdade entre os compradores. O preço é sempre um fator a ser pesado, e o comércio eletrônico permite comparações de preços que reforçam o conceito de valor.
E quem vai encolher ou desaparecer?
De novo, sem intenções proféticas, imagino que algumas lojas de departamento, lojas especializadas e redes de prestadores de serviços, não reabrirão todas as suas unidades. Algumas talvez não reabram nenhuma.
Assim como nas pessoas afetadas pelo vírus, muitas empresas também têm um risco maior de agravamento da doença e do óbito.
Todos os dias ouvimos falar de alguma que fechou as portas durante a pandemia e, quando lemos a notícia é frequente a indicação de que existiam outras comorbidades. Empresas que já eram deficitárias, já tinham um fluxo de caixa ruim, já estavam sem capital de giro ou com inventários de estoque muito acima do que seria saudável. Negócios que já não tinham relevância para os consumidores.
Empresas de varejo não poderão mostrar novas mercadorias por causa de seu alto endividamento e da incapacidade de comercializar mercadorias antigas que repousaram nas prateleiras das lojas durante o fechamento.
Não foi em 2020 que tivemos mais fechamentos que aberturas de negócios. A retomada econômica será mais lenta que a retomada das ruas pelas pessoas.
O que fazer?
Esperar milagres não é algo sensato no mundo dos negócios. A realidade está dada e não vai mudar com prestidigitação.
Recomendo que você olhe para o seu milharal e, mesmo que não ouça vozes (se bem que não custa ouvir as vozes de profissionais sérios de inovação), comece a pensar como aquele espaço pode ser reaproveitado com algo que seja relevante para o mercado.