Os mitos da inovação

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Fábio Adiron

Todos os dias somos bombardeados pelas mídias tradicionais e pelas redes sociais a respeito de métodos, práticas e modelos de inovação. Todos os dias uma avalanche (ou será um tsunami?) de termos e siglas que, se não são estrangeiros, parecem escritos numa língua que só os iniciados conseguem ler.

Para quem está escrevendo ou falando, essa terminologia complexa parece algo óbvio que qualquer mortal deveria conhecer e se, por acaso, você não entende, deveria contratar esse mais novo guru para resolver todos os seus problemas. Não deixa de ser uma forma de criar dificuldades para vender facilidades.

No entanto, a pior consequência desse discurso nem é a tentativa de vender serviços, mas o fato de que transforma a inovação numa esfinge indecifrável para quem está à frente de um negócio, acabando por criar uma série de mitos sobre o processo de inovação, quando deveriam estar mostrando a importância dela para a sobrevivência das empresas.

E quais são esses mitos?

O primeiro mito, como já adiantei acima, é o de crer que os condutores dos processos de inovação precisam ser seres iluminados por algum tipo de genialidade criativa sobre-humana e não pelos gestores de cada empresa.

Inovação e criatividade dependem de três aspectos, que podem ser encontrados em qualquer lugar: conhecimento técnico da área de atuação específica de cada negócio, motivação (a vontade de conduzir a tarefa) e habilidades criativas, especialmente a imaginação para abordar problemas, que podem ser aprendidas e treinadas por qualquer pessoa.

O segundo mito é o de que inovação depende de grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento e, portanto, não é para empresas pequenas ou médias.

Como se a maioria das inovações recentes não tivesse sido criadas em micro empresas (que depois cresceram) em garagens e quartinhos obscuros no sótão ou porão das casas e, principalmente, dentro da cabeça das pessoas antes de se tornarem um novo produto ou serviço.

Sua empresa pode ter uma pessoa, ou uma pequena equipe (apartada da operação do cotidiano) dedicada a pensar em como atender necessidades dos clientes em pontos da sua cadeia de valor em que esses mesmos clientes estejam insatisfeitos e, uma vez que ideias tenham sido geradas, calcular a viabilidade econômica da implantação. Você vai descobrir que pode começar pequeno, pensar grande e crescer rápido.

O terceiro mito é o de que toda inovação precisa ser uma invenção ou revolução tecnológica.

Por mais que a tecnologia seja algo fascinante, ela não é o cálice sagrado ou a solução de todos os problemas do universo. A maioria das grandes rupturas inovadoras desse milênio aconteceu usando tecnologias que estavam disponíveis para qualquer empresa.

Não foi o uso de aplicativos que tornou o Uber diferente de todos, mas a mudança de modelo de negócios. Qualquer grande banco tinha dinheiro sobrando para comprar tecnologias quando os, então minúsculos, bancos digitais começaram a invadir o mercado financeiro.

Inovação ou morte?

Muitos preferem adiar a sua decisão de começar a trabalhar em projetos de inovação tentando revogar a lei que preconiza que tempo é dinheiro.

A cada adiamento, é um período adicional em que a empresa deixou de investir em novas ideias, também é o tempo em que deixou de ganhar em resultados.

Mais grave, cada adiamento dá a oportunidade de seus clientes trocarem você por um outro fornecedor que tenha enxergado antes essas oportunidades. Correr atrás do prejuízo vai ser muito mais caro e, como a história tem demonstrado, o tempo e os mercados perdidos nunca mais serão recuperados.

Publicado originalmente no Blog da IDB Brasil em Setembro de 2020

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