Os Deepfakes Intelectuais

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Virginia Fantoni

As palavras são apenas o lado significante de um signo. Elas dependem do significado que é dado a elas por quem as fala e por quem as decodifica (e não obrigatoriamente este significado é o mesmo).

O problema é quando nos deparamos não só com palavras, mas com conceitos. Ideias. Teorias.

Muitas vezes a interpretação destes conceitos se distanciam do sentido original deles e, como aquela velha brincadeira do telefone-sem-fio, no final, muitas vezes, expressa o contrário do que tinha sido proposto inicialmente.

Podemos exemplificar com a famosa teoria de que as palavras representam somente 7% da comunicação interpessoal[1]  ou a famosa Pirâmide da Aprendizagem. Falando em pirâmides, temos a Pirâmide de Maslow. Ele nunca representou a sua hierarquia de necessidades através de uma pirâmide.

Alguns exemplos recorrentes:

O CORPO FALA

O famoso livro de Pierre Weil e Roland Tompakow enfatiza a importância da linguagem corporal no processo da comunicação interpessoal.

Pois bem, a linguagem não verbal como um todo é extremamente importante e deve ser observada e analisada.

Só tem um detalhe: ela não afirma nada. Ela sugere. Ela dá pistas. Cabe a você validar os sinais, confirmando ou corrigindo. Não podemos afirmar que uma pessoa é tímida só olhando para ela. Nem que alguém está mentindo.

Ao notar um sinal, seja através de um gesto, uma postura, um tom de voz, uma expressão facial (aqui poderia dissertar horas sobre os mal entendidos a partir dos estudos de Paul Ekman, reforçados pela série Lie to me), cabe a nós investigarmos, explorarmos todo o contexto da situação e da própria pessoa para então sim, termos um suspeita mais fundamentada.

Suspeita.

NUNCA podemos afirmar o que outro está sentindo ou pensando baseados exclusivamente na observação

O que nos leva ao segundo tema.

DEVEMOS PRATICAR A EMPATIA, NOS COLOCAR NO LUGAR DO OUTRO

A empatia é a nossa capacidade de sentir (Empatia emocional) ou compreender (Empatia cognitiva) o que o outro sente ou pensa por similaridade.

O outro está triste e os nossos neurônios espelho são ativados trazendo a lembrança de um momento da nossa vida em que sentimos tristeza.[2]

Mas nunca teremos a compreensão exata do que o outro sente ou pensa, pois por mais que tenhamos toda a informação que o outro tem, o que é praticamente impossível – não temos acesso aos arquivos do subconsciente e do inconsciente do outro.

Também não temos os mesmos valores, e não sentimos da mesma maneira.

Podemos, e devemos, racionalmente, escolher tentar entender a percepção e o sentimento do outro. Não sem antes fazer muitas perguntas para facilitar o processo. Mas sempre haverá uma parcela de suposição da nossa parte. Fecharemos a imagem guiados pelas nossas crenças, princípios e valores.

Nunca diga “Eu sei o que você está sentindo.” Você nunca vai saber.

Fala-se muito na necessidade de sermos empáticos. A empatia acontece como consequência de nosso posicionamento perante o outro

O que devemos fazer é nos comunicarmos sem prejulgamentos e opiniões até ter certeza que esgotamos todos os meios de explorar a percepção do outro. Aceitar a possibilidade de estarmos errados (humildade). Aceitar o direito do outro sentir o que está sentindo.

Desta maneira abriremos terreno para uma comunicação eficiente, onde o outro se sente valorizado e respeitado

Só que existem momentos em que não devemos ser empáticos. Assim como existe o uso da empatia (tanto cognitiva como emocional) para o mal

NÃO DEVEMOS JULGAR

É algo inerente ao ser humano. Impossível não fazê-lo.

Encontramos uma pessoa e na nossa mente formulamos um julgamento. Quando alguém emite uma opinião, é natural dentro de nós concordamos ou discordamos.

E não estamos errados, muitas vezes este julgamento pode salvar a nossa vida

O problema é o que fazemos com ele. O que dizemos ou o comportamento que adotamos. Podemos estar certos. Ou não.

Por isso é importante agir depois de pensar, refletir e, principalmente, avaliar.

Depois disso, podemos, e muitas vezes devemos, emitir o nosso julgamento.

Devemos criar o hábito de segurar os nossos impulsos (principalmente o de falar) e validarmos o nosso julgamento.

E apresentá-lo se necessário e no momento adequado.

ALGUÉM VAI TE AJUDAR A TOMAR DECISÕES MAIS ASSERTIVAS

Assertividade é uma conduta que nós, seres humanos, escolhemos adotar.

Nenhuma decisão, escolha, ideia, pode ser assertiva. 

Primeiramente, assertivo não tem nada a ver com certo ou errado (no pior dos casos, se existisse a palavra, a escreveríamos com “c”, um barbarismo que volta e meia encontramos).

Segundo, assertividade se define como o direito de você defender o seu ponto de vista respeitando o ponto de vista do outro.[3]

Como toda conduta se refere ao processo, e não ao resultado. Não existem garantias. Significa que você está assumindo uma postura firme quanto a suas crenças e valores e aceita as crenças e valores do outro de forma honesta e genuína.

Portanto, no dia que uma decisão for assertiva, é bom estar preparado. Não seremos mais os únicos seres racionais no planeta.

TEMOS QUE FOCAR MAIS EM TUDO QUE FAZEMOS

Nosso problema é que focamos demais. Não damos trégua à nossa mente. Não deixamos o nosso cérebro divagar.

Estamos sempre na frente de estímulos que incitam o nosso foco. Existem ocasiões em que sim devemos nos concentrar e direcionar a nossa atenção a alguma tarefa específica.

Mas isto se tornaria mais fácil se no resto do tempo deixássemos os nossos sentidos livres e soltos.

Existem vários tipos de foco. E o problema não é falta de foco, mas o uso do foco errado na hora errada.

SOMOS CAPAZES DE TUDO, QUERER É PODER, TEMOS SUPER-PODERES

A nossa vida se rege, de acordo com o nosso amigo Nicola Maquiavel, por duas variáveis. Uma delas é Virtù. A outra é Fortuna.

Virtù é a nossa capacidade de controlar nossas ações e criar estratégias para lidar com as circunstâncias, com o imprevisível.

Fortuna é a circunstância, a oportunidade. Logicamente, se ela aparecer, cabe a nós agirmos da forma certa. Mas se não aparecer, sinto muito. Você NUNCA vai conseguir o que quer. E tudo bem. Faz parte da vida aceitarmos essas intercorrências.

Se pararmos de acreditar em contos de fadas que nos fazem sentir obrigados a fazer o que não somos capazes de fazer e, portanto, nos deixa em constante estado de frustração, seremos muito menos estressados. Ou não.

Mas, pelo menos, a nossa vida não seria um faz de conta ou uma história do Marvel Comics.

Eu desejo a todos, como de costume, boas comunicações.

Tendo em conta que o significado que eu dou para “boas” é eficientes e eficazes, e “comunicações” qualquer interação entre dois ou mais seres humanos.


[1] https://adiron.com.br/consultoria/mehrabians-me-mordam/

[2] LAMEIRA, Allan P. GAWRYSZEWSKI, Luiz G. & PEREIRA JR, Antônio. Neurônios espelho. Psicologia USP 17(4), 123-133. São Paulo. 2006

[3] https://adiron.com.br/gestao/a-importancia-da-assertividade-na-comunicacao-interpessoal/

Imagem: Norman Rockwell – “The Gossips”, 1948