Criatividade e inovação

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Fábio Adiron

Desde a antiguidade até a idade média a criatividade era vista como um dom divino, somente durante o renascimento e, principalmente durante o iluminismo ela perdeu essa natureza mística e passou a ser atribuída como uma habilidade humana.

Mesmo no seu período místico, muitos entendiam esse processo como uma forma de descoberta e não de criação, até porque, tanto nas religiões ocidentais como orientais, somente o ser supremo tinha a capacidade de criar algo “ex-nihilo”, ou seja, a partir do nada.

Posteriormente a ação criativa foi relacionada como a capacidade intelectual e, especialmente dentro das habilidades mentais, com a imaginação. Essa era, ainda de certa forma, um atributo reservado a poucos escolhidos. Imaginação estava muito associada à genialidade

Somente no século XX, com o desenvolvimento e as pesquisas nas áreas de psicologia e neurociências é que se começou a admitir que o processo criativo poderia ser uma habilidade adquirida e treinada e, dessa forma, acessível a qualquer pessoa.

As fases do processo criativo

O modelo mais aceito tem os seguintes estágios:

Percepção ou identificação da situação problema: o que leva ao exercício fundamental de saber fazer perguntas. O matemático Georg Cantor já dizia que “na matemática, a arte de fazer perguntas é mais valiosa que resolver problemas”.

Costumamos identificar sintomas com muita facilidade mas raramente pesquisamos a fundo qual é a verdadeira causa – a raiz do problema.

Nos negócios costumamos tratar os sintomas, o que não exige criatividade, com fórmulas genéricas e acabamos sofrendo recaídas frequentes.

O segundo passo é a teorização do problema. Uma vez identificado, precisamos converter esse problema em um modelo conceitual.

Muitos de nós sentem calafrios só de ouvir a palavra teoria. Outros tantos não estão dispostos a queimar neurônios. Pensar dá trabalho e é um exercício cansativo.

No entanto, sem esse exercício é impossível seguir para o passo seguinte.

Considerar possíveis soluções. Um mesmo problema com o mesmo fundamento conceitual pode ter muitas possíveis soluções. Estudar exaustivamente cada uma delas é o único caminho para se chegar à mais adequada em todos os aspectos onde ela vá impactar.

Pesar prós e contras. Identificar eventuais efeitos colaterais. Calcular custo-benefício.

A solução não virá como uma fagulha genial descida das nuvens. O impacto “eureka” só acontece quando as fases anteriores foram bem trabalhadas e será, inevitavelmente, decorrente delas.

A última fase é a de produzir a solução. A última fase é transformar a ideia mental em ideia prática. Pode ser uma tarefa individual ou, como ocorre nas empresas, de forma coletiva, envolvendo diferentes conhecimentos dentro da organização.

Inovação é decorrente do processo criativo, não seu sinônimo

Ainda que inovação e criatividade sejam processos que andem em paralelo, não obrigatoriamente a criatividade levará à inovação.

Inovação implica também em resolver um problema mas nem sempre apresenta os sintomas que nos façam buscar a origem da dor. Por outro lado muito se ouve falar de inovações, especialmente tecnológicas, que são desenvolvidas para problemas inexistentes.

A famosa ideia genial em busca de um problema.

Além disso a inovação demanda concretização das ideias criativas. Um produto ou serviço inovador só faz sentido se for colocado em prática, caso contrário não passa de uma invenção, que pode até ser interessante, mas não serve para nada.

O processo de inovação também tem suas etapas, em uma próxima oportunidade falo mais dele, que também são trabalhosas, detalhadas, cansativas – e recompensadoras.

De qualquer forma adianto a mais significativa delas: enquanto a criatividade pode ser um exercício individual, a inovação será sempre uma prática coletiva, pois necessita de múltiplos conhecimentos e habilidades dentro de cada empresa.

Qualquer pessoa pode ser criativa. Só os coletivos podem ser inovadores.