“Precisamos reduzir nossa dependência externa em setores estratégicos, como a produção de medicamentos, proteger nossos negócios, ser mais ambiciosos em atrair ou realocar investimentos importantes. A Europa agora sabe que deve construir sua soberania.” (Emmanuel Macron – discurso de 18 de maio de 2020)
A frase de Macron, dita num encontro franco-alemão não é uma defesa do nacionalismo extremo, durante o seu discurso ele ressalta que a Europa deve continuar aberta ao comércio, mas precisa ser menos ingênua na sua dependência em relação a outras potencias econômicas.
Desde o começo da pandemia já surgiram sinais de que a globalização comercial atingiu o seu limite no momento em que a dependência, especialmente de produtos relacionados à prevenção e tratamento das pessoas se tornou um gargalo estreito na tentativa de salvar vidas.
90% da produção de equipamentos de produção individual (EPI´s) está na China. Por outro lado, notícias dão conta da preocupação dos chineses em relação a um eventual desabastecimento de soja, caso a situação do Brasil piore.
Também contribuiu para esse sentimento o fato de que a movimentação de pessoas ao redor do globo acelerou rapidamente a contaminação de outros países. Já surgem movimentos organizados para estimular o turismo intranacional. Não só como forma de recuperar a economia de cada país, mas também de evitar novos processos de contaminação.
Se de um lado, antigos nacionalistas como Kissinger, entendem que a solução para o problema da pandemia depende de movimentos colaborativos globais, por outro, o sempre globalizante governo japonês está pensando em pagar para empresas japonês saírem da China.
Nós, que vivemos em um país de baixíssimo desenvolvimento tecnológico (em 2011 éramos o 60º do ranking, em 2017 fomos para o 66º lugar) e totalmente dependente da produção do setor primário (que já beira os 60% de tudo que exportamos e, algumas regiões brasileiras, se aproxima dos 100%), não podemos nos dar ao luxo de fechar as portas para o mundo.
Também não podemos cair na armadilha que já conhecemos bem, que é a de reserva de mercados. A lei que garantiu a reserva de mercado da informática, que vigorou de 1984 a 1991, certamente foi um dos grandes motivos do nosso atraso tecnológico, ainda que sua intenção fosse justamente a oposta. De boas intenções, diz o ditado, o inferno está cheio.
O fundamento de tudo está na definição do que deveria ser de interesse estratégico, e incentivar esses setores, e o que é subsidiário. Para isso precisaríamos ter um planejamento estratégico do país, e não planos de governo limitados a seus precários mandatos.
E não temos nenhum.
O outro problema é que, infelizmente, a definição do que deve ou não ser considerado estratégico, está nas mãos de pessoas que não agem de acordo com a res publicae, mas com interesses privados.
A verdade é que o mundo está se reorganizando em direção a uma desglobalização ou, pelo menos, a uma globalização mais limitada.
Como bons brasileiros, vamos sair de casa atrasados e, ao chegar na estação, perder mais uma vez o trem da história.