There is a crack in everything
That’s how the light gets in (Leonard Cohen)
Faz parte da nossa natureza nos incomodarmos com defeitos, mais do que nos agradarmos com o que é bom, a isso se dá o nome de enfoque deficitário. Fomos criados para acreditar que o certo nada mais é do que uma obrigação e que o errado precisa ser corrigido.
A nota baixa em uma matéria na escola faz com que todas as outras notas boas percam seu significado. Uma falha em um relacionamento pessoal, não poucas vezes, é suficiente para destruí-lo, apesar de todo resto que tem de bom.
Não é diferente dentro do mundo dos negócios. Buscamos obsessivamente as rachaduras nas paredes para poder fechá-las, cobri-las com massa corrida e renovar sua pintura e, nem sempre, investigar as causas que as provocaram.
Em um mundo de aparências, é mais importante a parede lisa do que a preocupação com o a solidez das estruturas.
Até o dia em que a parede desaba.
Em 1992, o músico canadense Leonard Cohen, lançou seu nono disco de estúdio, chamado “The future”. Dentre as muitas pérolas do poeta, a música “Anthem” trazia a frase que coloquei em epígrafe: “em tudo existe uma rachadura, é como a luz entra”.
No contexto em que vivemos, a frase me fez pensar sobre a questão de inovação no mundo dos negócios.
Ao escrever o livro “Desvendando a cadeia de valor”, o professor Thales Teixeira dá um passo adiante nos conceitos de inovação disruptiva de Clayton Christensen, ao apontar que devemos buscar oportunidades de inovação nos processos onde existem rachaduras.
Inovar não é melhorar aquilo onde somos bons, mas encontrar em nós mesmos, ou no modelo de negócio em que estamos inseridos, o ponto, ou os pontos onde os clientes estão infelizes.
Teixeira mostra que as inovações disruptivas recentes surgiram quando novos entrantes perceberam as rachaduras por onde a luz entrava, e se apropriaram delas, roubando das grandes empresas um pedaço das atividades de seus clientes.
Enquanto os conservadores se incomodavam com o buraco na parede, os inovadores se atentavam para o que essas frestas lhes traziam de oportunidades. Os primeiros tapavam buracos, os últimos se alimentavam da luz.
O momento é o de inspeção geral no prédio. A busca constante de novos fachos de luz é o que define o profissional inovador.
O demais continuarão sendo tapadores de buracos.