Escuta empática: uma questão de escolha

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Listening to the Sea, by Mary Lemon Waller

Virginia Fantoni

Ao contrário do que se pensa (falta de vontade, preguiça, descaso), o motivo pelo qual a escuta raramente (sim, muito raramente) é colocada em prática é falta de informação. Se trata não de por que escutar, mas de como escutar.

Por outro lado, a escuta consciente e deliberada é muito difícil. Exige tempo, energia e, acima de tudo, atitude.

Antes de mais nada, vale esclarecer que existem vários tipos de escuta. Ao escutar estabelecemos um objetivo, um propósito, a saber:

Escuta informativa: tem como finalidade compreender a mensagem do outro

Escuta crítica: seu propósito é avaliar a credibilidade da mensagem do outro

Escuta empática:, seu objetivo é ajudar o outro a resolver ou a aprender a lidar com uma situação-problema (aquilo que provoca uma preocupação, ansiedade)

A escuta empática exige um comportamento sustentado por uma atitude. Comportamento ativo (o outro precisa perceber que está sendo escutado) e uma atitude que pode se resumir numa palavra só: aceitação.

1. Se um amigo ou um colega procurar você para que o ajude com um problema não assuma que ele espera que você lhe dê a solução

Ajudar significa prover o outro com o que ele precisa em determinado momento. Antes de mais nada, entenda a necessidade dele. Na maioria das vezes o que ele precisa é colocar as suas ideias em ordem para poder achar o seu próprio caminho. Você será um espelho que refletirá as mensagens dele para que ele as enxergue com mais clareza, facilitando o processo.

Ao dar a solução você estará sugerindo que ele não tem capacidade para resolver seu próprio problema, ou então criará uma dependência muito perigosa (principalmente se a solução sugerida fracassar)

2. A chave está nas respostas que você oferece ao outro

Respostas verbais e, principalmente não verbais, são cruciais. Respostas que não transmitam julgamento (negativo nem positivo), falta de interesse, impaciência ou nenhum outro sentimento que feche as portas à fala do outro ou, pior, o faça assumir uma atitude defensiva.

3. O principal (e o mais difícil) elemento da escuta empática é a aceitação.

“Aceito o teu direito de ver e sentir as coisas da maneira como você as vê e as sente. Aceito, mesmo sem concordar.”

4. Devemos estar atentos ao silêncio do outro.

O silêncio está carregado de significado.

Assim como nós devemos brindar o outro com o nosso silêncio.

É um presente valiosíssimo. Mas não um silêncio desinteressado, e sim um silêncio atento. Abre todas as portas.

5. Não precisamos escutar empaticamente 100% do tempo.

Precisamos querer e poder.

Escutar é um investimento que sem dúvida traz retornos altíssimos. Mas não somos obrigados a escutar todos empaticamente o tempo todo. Vai depender do tipo de relacionamento e, principalmente do momento.

Qualquer barreira interna ou externa em nós já é motivo suficiente para sermos sinceros e explicarmos que naquele momento não estamos em condições de dar a atenção que ele merece.

6. Em geral ouvimos o que queremos ouvir e como queremos ouvir.

A escuta empática requer uma mudança drástica de atitude. Ouvir tudo. Aceitar tudo. De forma genuína.

A discordância provoca uma surdez instantânea. Paramos de ouvir para reforçar os nossos argumentos

Mas a concordância também provoca surdez, já que não precisamos nos esforçar em defender o nosso ponto de vista.

7. Simpatia e antipatia envolvem julgamento e avaliação.

A empatia envolve compreensão e aceitação.

É impossível não julgar ou avaliar o que os nossos sentidos percebem. O importante é o que fazemos com esse julgamento ou avaliação.

Através do esforço em entender o que o outro sente e pensa podemos confirmar ou corrigir o nosso julgamento.

Mesmo que dentro de nós discordemos com a opinião do outro, se o nosso propósito é ajudá-lo, devemos, genuinamente, aceitar a posição dele

8. A escuta empática requer uma escolha. É um processo consciente e exige esforço

Devemos nos esforçar para sairmos de nós mesmos, deixar a nossa percepção de lado.

Consequentemente, aumentarão as chances de entendermos a percepção do outro.

Nunca saberemos como ele vê as coisas, muito menos como as sente.

Podemos ter uma ideia. E só.

Mas se sairmos de nós um leque de possibilidades e percepções se abrirá, e será muito mais fácil aceitar que existem outras maneiras de perceber a situação

Exige coragem e, principalmente, humildade

9. O ponto de partida é a compreensão da situação e do sentimento do outro.

Por isso, antes de mais nada, faça silêncio e escute. Preste atenção nos detalhes que ajudem no entendimento da situação e nas palavras que expressem sentimentos

Depois confirme a sua interpretação da mensagem do outro

E agora a parte mais importante: Não diga nada, continue escutando

10.  Nunca peça (verbal ou não verbalmente) para a pessoa parar de fazer aquilo do qual ela não tem controle.

Nunca peça para ele parar de sentir o que sente. Isso não é aceitação.

Não diga para não se preocupar que vai passar.

Não diga que o seu problema é pior.

Não mude de assunto.

Não feche a porta na cara do outro!


Quando você identificar que o outro precisa de ajuda, não se esqueça que é uma oportunidade preciosa para criar uma conexão com outro ser humano.

Não é por ele, é pelos dois.

A conexão social é a necessidade mais básica dos indivíduos.

É tão simples pedir conexão nas redes sociais, ao contrário da vida real.

Mas, tudo é questão de escolha. Você pode escolher se conectar e desconectar com um clique. Ou se conectar valorizando o que nos torna humanos

Ser simples, ou ser feliz