Perigo! Perigo! Perigo!

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O ano é 1997, e a Terra está sofrendo com uma superpopulação. A família Robinson é enviada a uma missão de 5 anos no espaço para encontrar um novo planeta para colonizar, mas a viagem é sabotada por um agente de um governo inimigo, o Dr. Zachary Smith. O Dr. Smith acaba ficando preso dentro da nave e, devido ao excesso de peso, eles estão vagando sem destino, e precisam encontrar uma maneira de voltar para casa. A espaçonave Jupiter II também leva um amigável robô, companhia fiel de Will Robinson.

Quem foi criança e adolescente nas décadas de 60 e 70 do século passado conhece bem essa história, era a série televisiva “Perdidos no Espaço” e, como sói acontecer nessas utopias futuristas a personagem de maior bom senso é o amigável robô que atendia pelo nome de…robô. Era ele que nos momentos críticos soava o alarme gritando perigo! perigo! perigo! A série teve um remake da Netflix a partir de 2018. Não assisti, não posso opinar.

Corte rápido: imagino que você já passou por uma das cenas abaixo (senão muitas, senão todas):

Você entra em uma loja. Se no julgamento dos atendentes você é da cor errada, do gênero errado, da idade errada, do peso errado, está vestido com as roupas erradas…você fica completamente abandonado, no vácuo como diriam alguns jovens de hoje.

Você liga para a central de atendimento telefônico de uma empresa qualquer e cai em uma URA (aquela maquininha que diz para atendimento disque 1, para saber seu saldo disque 2, para dar 5 piruetas no tablado disque a raiz quadrada de Pi…). Quando finalmente surge um humano ele pede para você repetir todos os dados que já digitou, e esse humano te transfere para outro humano (musiquinha chata ou a inominável ladainha “a sua ligação é importante para nós…”), o humano seguinte te pede de novo todos os dados e fica simulando que está digitando algo, tec tec tec tec…aí a linha cai e voltamos ao início.

Você, que é mais moderninho, prefere o ou a assistente virtual (habitualmente são personagens femininas). Geralmente um avatar infantil da dona da empresa, usando um nome engraçadinho pedindo para que você digite a sua dúvida. Você digita. Ela responde: não entendi a sua pergunta, por favor digite a sua dúvida. Depois de 18 tentativas ela entra com um texto pedindo desculpas e dizendo que ainda está em treinamento, que vai te transferir para uma pessoa. Seu status aparece como sendo o 379º da fila de espera. Quando finalmente chega entre os 10 primeiros a conexão cai.

Depois de dois anos de pandemia você se habituou a comprar várias coisas pela internet. Entra em um e-commerce qualquer, vamos imaginar que seja uma farmácia, você faz todo o seu processo de compra e ao dar o último clique o site te informa que a operadora do cartão rejeitou a compra. Você liga para operadora do cartão (vide atendimento telefônico acima) e, como está com sorte, consegue ser atendido e a pessoa lhe informa que o cartão não rejeitou nada, aliás nem houve pedido de autorização daquele e-commerce. Você volta para o site de e-commerce, e nada. Tenta outro que lhe oferece um prazo de entrega de 5 dias úteis, afinal não é nada urgente, só um remédio.

Mas basta qualquer dessas empresas super focadas nos clientes dizer que vai criar o seu metaverso, e todos querem entrar. Pelo cano.

Você vai ficar largado no vácuo se seu avatar não seguir os padrões exigidos. Vai ficar preso na constelação do labirinto numérico das infinitas opções. Vai ser obrigado a ouvir eternamente a avatar assistente dizer não entendi, por favor repita e finalmente você cairá no horizonte de eventos e será tragado pela singularidade gravitacional do grande buraco negro (é óbvio que estou sendo ironicamente distópico aqui), mas falando sério, você teria coragem de entrar no metaverso de uma empresa que não consegue nem manter um site básico ou dar um atendimento decente?

Perigo! Perigo! Perigo! bradaria o robô da família Robinson.