Sem anamnese

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Anamnese (do grego ana, trazer de novo e mnesis, memória) é uma entrevista realizada por um  profissional de saúde com o seu paciente com a intenção de ser um ponto inicial no diagnóstico de uma doença ou patologia. Em outras palavras, é uma entrevista que busca relembrar todos os fatos que se relacionam com a doença e à pessoa doente

Sabe-se hoje que a anamnese, quando bem conduzida, é responsável por 85% do diagnóstico na clínica médica, liberando 10% para o exame clínico (físico) e apenas 5% para os exames laboratoriais ou complementares.[1]

Cena 1

Uma empresa de grande porte (enorme porte, eu diria), resolveu chamar algumas agências ditas digitais para começar um processo que deveria culminar contratação desse tipo de serviço.

Foram convidadas três agências para que apresentassem suas credenciais.

As três empresas não só apresentaram as credenciais como também já foram para a primeira reunião com uma proposta de trabalho incluindo planejamento, planos de mídia e ferramentas de controle.

Mal sabiam quem era a empresa, sequer pediram um briefing e não faziam a menor ideia a respeito de quais eram os desafios de marketing que a empresa enfrentava.

Todas foram descartadas pelo possível contratante por apresentar diagnóstico e tratamento sem nenhuma investigação.

Cena 2

Uma empresa de grande porte (não tão grande quanto a anterior) resolveu chamar um fornecedor de serviços de marketing para conversar a respeito de serviços de geração de leads e automação de marketing.

Depois de uma reunião com o responsável pelo marketing foi feito um debriefing da conversa e uma proposta de trabalho que começava pelo levantamento detalhado da situação da empresa, seus mercados e os pontos críticos do relacionamento com clientes e prospects (que, obviamente, não precisavam ser detalhados num primeiro encontro).

O marketeiro da empresa devolveu a proposta pedindo para detalhar o que seria feito. Queria um remédio genérico para uma doença que ainda não tinha sido adequadamente diagnosticada.

Sabendo dos dois casos fiquei pensando se não seria adequado indicar as agências do caso 1 para o cliente do caso 2, e vice-versa e, apesar de ter concluído que a primeira empresa seria muito bem atendida, a segunda apenas jogaria dinheiro no lixo.

De qualquer forma, entendo que existam alguns pontos que valem a pena ressaltar na comparação entre a anamnese médica e a de marketing:

  1. Por melhor especialista que seja o médico (ou a agência, ou o consultor), cada caso é individual e particular. Se não for analisado de forma correta vai gerar tratamentos inócuos ou, em alguns casos, até perigosamente mortais;
  2. Uma boa anamnese (ou levantamento) não só pode identificar adequadamente um problema (ou patologia) como pode economizar muito dinheiro e tempo para o cliente (paciente)
  3. Médicos (marketeiros) que dão diagnóstico sem explorar toda a extensão do histórico, das relações com o mundo exterior e dos problemas, são meros curandeiros em busca de dinheiro fácil e rápido.
  4. Pacientes (clientes) que esperam um tratamento sem diagnóstico preciso estão apenas enganando-se a si próprios. Muitos são meros hipocondríacos que merecem ser tratados com placebo. Muitos acham que os médicos (agências, consultores) são advinhos.

Em mercados em que as pessoas cada vez mais esperam soluções milagrosas e imediatas, essas histórias tendem a se repetir ad nauseam.

Felizmente sempre vai existir gente séria no mundo. Esses são os que crescem e permanecem saudáveis (e prósperos).

[1] Adaptado do verbete Anamnese da Wikipedia