Virginia Fantoni
A primeira pergunta que faço aos meus alunos é por que eles decidiram estudar inglês (ou espanhol)
A resposta é unânime: para me “comunicar” com os outros por motivos pessoais ou profissionais, e como consequência…
Se analisarmos o sentido da palavra comunicar, envolve o falar. E muito mais.
A pergunta que frequentemente fazemos é: “Quantas línguas você fala? “ “Você fala inglês?”
Quando o certo seria “Em quantas línguas você consegue se comunicar?” “Você se comunica em inglês?”
A comunicação envolve muito mais do que o “falar”. Podemos ver duas pessoas falando. E não existe uma conexão. São dois monólogos. Ou coisa pior, se houver confronto.
Logicamente isto não se aplica somente ao estudo de línguas estrangeiras. Acontece no nosso dia a dia com o nosso próprio idioma.
Mas o que eu quero enfatizar aqui é a importância de se pensar neste aspecto do idioma ao estudá-lo.
Normalmente nos preocupamos com a estrutura (gramática) e o vocabulário. Também com a pronúncia e a ortografia.
Considero estes pontos fundamentais, e deve ser dada a mesma importância, pois um ajuda a entender o outro
Mas a lista não está completa
Ao falarmos uma língua estrangeira não somos “menos humanos”. Pode parecer um absurdo o que estou dizendo. Mas nos preocupamos tanto com os pontos citados acima que esquecemos as nossas emoções.
Sim, pois TODA mensagem tem carga emocional
Esta carga emocional é transmitida através da entonação, do tom de voz, dos silêncios, das pausas. Além de todos os elementos da linguagem não verbal (Linguagem não verbal é todo o conteúdo da mensagem, exceto as palavras. A linguagem corporal sendo apenas um destes elementos)
É muito importante que este aspecto seja trabalhado desde primeira aula. Um simples “Good morning” ou “Buenos días” pode ter muitas (sim, muitas) interpretações.
“Ou seja que além de me preocupar com as regras gramaticais e a escolha das palavras e a pronúncia correta, preciso me preocupar com a emoção que a mensagem carrega?” Sim. Simples assim
De nada vale falar as palavras certas da forma errada. Assim como também não é muito aconselhável usar a palavra errada. Não estou tirando a importância dos outros elementos.
Aprender um idioma não é fácil e é demorado. Exige esforço e perseverança. É pegar ou largar.
Algumas considerações importantes:
Acredite que falar de forma “humana” é algo que pode ser treinado e incorporado como qualquer outra habilidade.
Isto exige atitude e perseverança
Procure entender por que cada língua “soa” de forma diferente
Isto se consegue através do estudo de todos os aspectos que estão contidos no discurso. O volume, a entonação, as pausas. E até os silêncios
Leve em conta as diferenças culturais
Acredito que devamos preservar a nossa identidade. Temos o nosso próprio background cultural, e isso deve também ser considerado pelo outro. Mas existem alguns detalhes, não só na escolha das palavras, mas na linguagem não verbal também, que podem soar rudes ou ofensivos
Pense e sinta antes de falar
É o que fazemos naturalmente na nossa língua.
Primeiro pensar no sentido do que estou falando e o objetivo da mensagem. Depois sentir. E depois falar.
Ao falar, note se está suplicando, informando, repreendendo, explicando, interrompendo. Existe um verbo que descreverá o objetivo da mensagem, a emoção virá junto. E a entonação também
Pratique, pratique, pratique
Ao falarmos uma língua estrangeira surgem muitos bloqueios emocionais (que podem ser trabalhados também)
Por isso o ideal é praticar em situações nas quais você se sinta confortável. Sozinho ou com um amigo.
Leia uma frase não muito extensa várias vezes com diferente carga emocional.
Se tiver um interlocutor perceberá as diferentes reações na expressão ou na resposta dele.
Seja humano. Nesta era de automatização, seja humano. Em qualquer situação. Vai facilitar a sua comunicação, e muito.
Boas comunicações. Em qualquer língua.
Descrição da imagem: um robô segurando um crânio humano, imitando a famosa cena de Hamlet