Transformação analógica

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Há alguns muitos anos eu trabalhei para um grande shopping center aqui de São Paulo que tinha um programa de relacionamento com clientes. Não chegava a ser uma Brastemp, mas os clientes gostavam. Um dia, sem nenhum aviso prévio, eles descontinuaram o programa. A história está relatada em um texto que chamei de “O assassinato de Pareto”[1] (está no link ao final desse artigo).

A lógica dessa proeza estava no fato que o shopping se remunerava por metro quadrado ocupado e que oferecer vagas gratuitas no estacionamento ia contra esse princípio. Coisas de cultura arraigada que não pensava nem nos clientes, nem nos lojistas (que também eram clientes do empreendimento) que perderiam clientes.

Essa história me veio à memória ao saber que os principais sócios do Delivery Center (duas empresas de empreendimentos em shoppings centers) resolveram descontinuar o serviço que estava digitalizando o processo de compra. Faz sentido. Se as pessoas continuarem a comprar por meios digitais, menos espaço será alugado (e não só das vagas de estacionamento, mas também de lojas que podem perceber que não precisam do shopping para vender).

Afinal de contas, já que a pandemia acabou (há controvérsias) eles podem voltar a fazer business as usual, como se nada tivesse mudado e não perder tempo com essa besteira chamada transformação digital. Pelo menos até a próxima pandemia.

Esperam corredores cheios, muito consumo de amenidades e, é claro, dos produtos das lojas. Além dos muitos metros quadrados de estacionamento, que são os mais rentáveis desse modelo de negócios.

Um retorno inquestionável ao século passado que pode até render frutos nesse Natal, mas de futuro extremamente duvidoso, especialmente tendo os grandes varejistas disputando a tapa os clientes no mundo digital e oferecendo entregas cada vez mais velozes.

Como é habitual, o imediatismo engole o pensamento de longo prazo, mas a longo prazo isso será problema dos gestores do futuro (e os de hoje podem receber os seus bônus).

Depois dizem que a cultura não come a estratégia no café da manhã…


[1] O assassinato de Pareto – https://adiron.com.br/consultoria/o-assassinato-de-pareto/